Na tarde do dia 18 de novembro, lideranças empresarias discutiram sobre temas importantes que envolvem a equidade racial no mundo corporativo, transição de energia justa, a visão dos investidores e as tendências e perspectivas do desenvolvimento sustentável focando no papel dos reguladores.
Este último painel contou com a ilustre palestra e presença internacional de Kassie Freeman, fundadora, presidente e CEO do Consórcio da Diáspora Africana (ADC). Reconhecida como uma líder na promoção dos direitos e da inclusão da diáspora africana, ela se dedica a fortalecer os laços entre as comunidades africanas e suas raízes, promovendo o desenvolvimento econômico, cultural e social. Vamos acompanhar as principais falas dos participantes dos painéis da tarde.
Tema: Equidade Racial no Mundo Corporativo
Daniela Bortman, Head de Medicina Ocupacional e Saúde da Bayer
Saúde Ocupacional
“O que eu preciso fazer para deixar o mundo menos injusto?
Antes, não via como a saúde se encaixava na inclusão. Hoje, já vejo de uma maneira diferente. Nos últimos anos, percebo que conseguimos ter mais maturidade como sociedade ao incluir saúde e sustentabilidade na agenda das pessoas. Os grupos mais excluídos sofrem mais com doenças que afetam a saúde mental, pois possuem menos oportunidades. Precisam entregar mais do que pessoas brancas, por exemplo. A meritocracia para esses grupos é muito discrepante em relação aos brancos. Além disso, a quantidade de pessoas negras com planos de saúde é inferior em comparação aos brancos”.
Theo Van Der Loo, Fundador e sócio da Nevele Consulting LTDA
“Eu não sou protagonista, mas também não sou apenas apoiador. Sou um co-responsável por fomentar a participação negra nas empresas. Não adianta um CEO delegar a diversidade para os setores. É preciso interagir com os públicos para conhecer suas realidades e, principalmente, identificar pessoas talentosas que não querem favores, mas oportunidades. Conheci pessoas que, se tiverem oportunidades, com certeza gerarão resultados”.
Thereza Moreno, Conselheira independente da iniciativa privada
“A educação é a base de tudo e a educação antirracista é fundamental para que as escolas abordem a cultura negra. Elas precisam não só praticar isso, mas incentivar a formação de movimentos e redes de apoio, além de trabalhar a autoestima dos alunos. A educação antirracista nas escolas é mais do que necessária. Empresas que são diversas são mais lucrativas, como indicam diversas pesquisas. Criatividade e inovação aumentam em grupos diversos, que conseguem gerar soluções para problemas complexos. Ter diversidade não é só trazer pessoas negras e pardas, mas também mantê-las e oferecer chances de ascensão. Isso requer ações afirmativas nas empresas”.
Claudionor Alves, Diretor Executivo de Equidade Racial e Relações Institucionais
“Buscamos parcerias com comunidades negras e diversos públicos, pois queremos que outros setores compreendam a importância de atuar nesse tema.
Tema: Transição de Energia Justa
Beatriz Zaplana, Gerente de ESG da Cosan
“Quando falamos do impacto da transição energética, temos uma visão ESG com o compromisso de que nosso portfólio precisa refletir isso. Colocamos as mudanças climáticas e o impacto social positivo no entorno como pontos importantes. Trazemos valor, emprego e ações que potencializam nossa presença no local. Mas é um desafio complexo, pois temos diversidade de biomas e, por isso, não há uma solução única para essa transição”.
Juliana Ramos, Gerente Setorial de Direitos Humanos da Petrobras
“Este é um tema complexo, pois requer um modelo de mudança em nosso sistema econômico global. Somos um grande produtor de petróleo e gás e temos um papel relevante no processo de transição para uma energia justa. Temos consciência do nosso potencial técnico e estamos ampliando a oferta e o acesso a produtos e serviços energéticos de baixa emissão. Estamos desenvolvendo um processo de descarbonização de óleo e gás, com uma redução de 40% na emissão de carbono. Paralelamente, investimos em novas fontes de energia, como o biodiesel. Essa é uma estratégia para reduzir a pobreza energética e distribuir energia de maneira mais justa. Ampliar o acesso à energia em locais mais vulneráveis é fundamental para diminuir as desigualdades sociais”.
Tema: Tendências e Perspectivas do Desenvolvimento Sustentável – O Papel dos Reguladores
Belline Santana – Chefe do Departamento de Supervisão Bancária do Banco Central
“Sobre as mudanças climáticas, o Banco Central atua como indutor dessa mudança climática e tem discutido a temática há bastante tempo. Somos signatários de acordos internacionais para gestão do risco climático e de transição. Desenvolvemos políticas para diminuir o impacto dos resíduos circulantes no Brasil. Estamos trabalhando para garantir que as instituições bancárias adotem as melhores práticas em relação à sustentabilidade”.
Kassie Freeman, membra do Conselho do Banco de Exportação e Importação dos Estados Unidos e presidente e CEO do Consórcio da Diáspora Africana (ADC).
“É motivador participar de um fórum como esse, onde podemos discutir diversidade e inclusão. A diversidade e inclusão são temas de grande relevância, especialmente em um momento em que muitos não são educados sobre essas questões. Nos EUA e na Europa, o movimento anti-equidade está ganhando força, mas estou feliz que esse movimento não se reflete da mesma forma no Brasil. A educação é o maior aliado da justiça social, pois é através dela que as pessoas acreditam em oportunidades. As mudanças climáticas e a justiça social precisam ser ensinadas, pois têm impacto direto na sociedade como um todo”.
Nicolino Eugênio Jr. – Gerente de Relações Trabalhistas e Sindicais da Febraban (Federação Brasileira de Bancos)
“A Febraban busca alinhar as visões dos reguladores com as do mercado e ajudar os associados a entender melhor esses temas. O PIX é motivo de orgulho para o Brasil, e é um modelo de benchmark para o mundo. Cerca de 98% das transações bancárias no Brasil são feitas digitalmente, e os brasileiros têm se mostrado curiosos e rápidos em adotar novas soluções. Oferecer soluções digitais é uma forma de inclusão, e a sociedade tem respondido bem a isso. A educação é um vetor primordial para a promoção da igualdade, e os bancos precisam observar a importância de questões como a presença de mulheres e negros em cargos de liderança e conselho”.
Elias Chimuco – Presidente da Mesa da Assembleia Geral e Acionista Majoritário do Banco Yetu S.A. (Angola)
“Mudanças climáticas, inclusão e sistemas financeiros: Angola possui 23 bancos e está em desenvolvimento, com uma economia em crescimento. A mudança climática é um processo que estamos começando a enfrentar. A sociedade, o governo e as empresas devem agir juntos para contribuir para a solução”.
Tema: A Visão dos Investidores: As Tendências para um Futuro Sustentável
Fernando de Rizzo – CEO da Tupy S.A.
“Precisamos utilizar combustíveis de forma econômica em nossas máquinas. A Tupy tem a possibilidade de produzir biodiesel, etanol e biometano”.
Vivian Macknight, Gerente Geral de Mudanças Climáticas da Vale S.A.
“Os eventos climáticos que ocorreram no Rio Grande do Sul mostraram como essas situações podem afetar a vida das pessoas. As empresas precisam se preocupar com as mudanças climáticas, pois elas impactam diretamente as esferas social e econômica”.
Werner Roger, Sócio Fundador e CEO da Trígono Capital
“Antes, alguns fundos se preocupavam apenas com questões financeiras. Hoje, vemos um movimento crescente de investidores que buscam saber como as empresas estão atuando em relação às iniciativas ESG (ambientais, sociais e de governança)”.