Os escritores Paulo Lins e Oswaldo de Camargo e a escritora Cidinha da Silva participaram da segunda mesa intitulada Literatura Negra e Literatura Periférica no Brasil no segundo dia, no domingo (17/11), da FLINKSAMPA – Festa Internacional do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra, sob a mediação de André Augusto Dias.
O percurso das literaturas negra e periférica, a partir dos anos 1960, enfrentou questionamentos, barreiras, invisibilidade, oposição, pouca valoração. Mas, ao negarem o que sempre lhes fora naturalizado no senso comum e na história social do país, escritores, ativistas e intelectuais negros e periféricos abriram, com enfrentamento e resistência, um espaço incontestável na história da literatura brasileira.
Em sua fala, Oswaldo de Camargo destacou a importância de Luiz Gama na inserção do negro na literatura. “Depois do Carlos de Assunção eu sou, provavelmente ou certamente em idade, o escritor ligado às letras mais antigo. Mas há um nome que não pode ser, de jeito nenhum, esquecido, deslembrado nessa conversa. Tudo isso que está acontecendo sobre literatura negra, sobretudo, eu nem digo periférica, se deve a uma figura importantíssima na história do Brasil, na história da abolição, o Luiz Gama. (…) Não havia na nossa literatura, nem com Silva Alvarenga, nem mesmo como outros autores mesclados na cor, nem se cogitava de ter um negro da minha cor escrevendo. Não havia isso. O negro da meia cor, no geral, era o escravo, uma marca fundamental do escravo, que era ser descalço. Por isso, o Luiz Gama, na minha opinião, ele inaugura no nonagésimo verso do poema dele, ‘Quem Sou Eu?”, ele se assumiu de fato como negro, porque ele era mesclado com o branco, ele não era escuro de verdade. Ele se aceitou como escuro, como negro”. Ele também destacou que Luiz Gama escolheu trabalhar a questão da cor. “Ele vai se aceitar como negro e vai tentar tirar dessa aceitação as consequências literárias”.
Paulo Lins ressaltou a importância do negro ter entrando no mercado da literatura e da cultura na sociedade. “Eu fico muito feliz da gente ter entrado no mercado, mas num país de 400 anos de escravização, é lógico que as guerras, os quilombos, os levantes, foram muitas e muita gente foi morta, na maioria pessoas negras. A nossa força também veio da cultura. A cumplicidade de acreditar no mesmo Deus é uma coisa muito forte. A compreensão da nossa ancestralidade é uma coisa que as pessoas negras nunca deixaram de trazer dentro de si. Então, eu costumo falar que as necessidades fisiológicas, ir ao banheiro, comer, beber, dormir, reproduzir, fazer ciência, a vaca também faz, o cachorro também faz, a baleia, o gavião. Agora, a nossa diferença é que a gente faz cultura. A única diferença é essa. A cultura é a única coisa ou é a grande coisa que traz a nossa humanidade. Cultura e história. Já que a gente tem um poder de comunicação, a gente pode rever o que aconteceu no passado e apontar para o futuro”, ressaltou Paulo Lins.