A quinta mesa do Congresso de Educação Antirracista discutiu o tema Tradições Religiosas e Culturais Decoloniais com os participantes Claudia Marina Magalhães Rocha – Mestre em Políticas Públicas pela UMC e professora na Universidade Zumbi dos Palmares – e Letícia Aparecida Ferreira Lopes Rocha – Mestra em Ciências da Religião pela UNIFESP. A mediação ficou por conta do Professor Amilton Jesus dos Santos. Confira as principais falas dos convidados.
“A intolerância religiosa no nosso país é algo que vivo há 40 anos. Desde pequena, por mais que minha tia fosse mãe de santo, o preconceito foi algo que vivi dentro da família. As pessoas ainda têm o preconceito de achar que só pessoas negras se identificam com religiões de matriz africana. Até que ponto nós somos perseguidos pela nossa religiosidade? Até que ponto eu não posso falar que sou mãe de santo e tenho que falar que sou espírita? Eu acho espiritismo muito rico, mas é diferente da matriz africana, diferente do candomblé, por exemplo, que tem inclusive as oferendas com animais e que as pessoas veem isso de uma forma negativa, mas não entendem a cultura lá de trás de que não se está apenas sacrificando um animal, mas que historicamente existe um contexto do por quê aquele sacrifício está acontecendo”, questiona Claudia Marina Magalhães Rocha, Mestre em Políticas Públicas pela UMC e professora na Universidade Zumbi dos Palmares.
“Desde pequena fui de tradição católica e isso perpassou a minha vida. Por isso quando entro na academia, eu entro desejosa de estudar principalmente a relação de mulheres dentro da Igreja católica, justamente por ver que é uma instituição misógina. Qual é esse lugar da mulher na Igreja, eu me perguntei. Durante a vida, tive uma participação muito intensa na Igreja católica, e se eu faço esse estudo hoje é porque eu fui uma mulher negra e freira, e eu sei como o racismo que eu sofri nesse espaço. Então eu trago isso para a academia porque a academia precisa refletir sobre a nossa vida. Precisamos falar das nossas vivências, principalmente de pessoas negras. A Igreja pouco ou nada se fala sobre racismo, há um silêncio que sempre parte do discurso da reconciliação, a partir do ideal de um amor compartilhado por todos, de que todos amamos uns aos outros. Mas será que amamos mesmo? Então essa é uma grande pergunta quando a gente vê o racismo dentro da instituição religiosa, como a impossibilidade de ascender a espaços de poder. A Igreja católica no Brasil ter mais de 500 anos de história e não ter um cardeal negro é um absurdo, é gritante, é uma aberração”, afirmou Letícia Aparecida Ferreira Lopes Rocha, Mestra em Ciências da Religião pela UNIFESP.